Leia o fragmento a seguir do livro O Ateneu e responda às questões 1 e 2:
Duas vezes fora visitar o Ateneu antes da minha instalação.
Ateneu era o grande colégio da época.
Afamado por um sistema de nutrido reclame, mantido por um diretor que de tempos
a tempos reformava o estabelecimento, pintando-o jeitosamente de novidade, como
os negociantes que liquidam para recomeçar com artigos de última remessa; o
Ateneu desde muito tinha consolidado crédito na preferência dos pais, sem levar
em conta a simpatia da meninada, a cercar de aclamações o bombo vistoso dos
anúncios.
O Dr. Aristarco Argolo de Ramos, da
conhecida família do Visconde de Ramos, do Norte, enchia o império com o seu
renome de pedagogo. Eram boletins de propaganda pelas províncias, conferências
em diversos pontos da cidade, a pedidos, à substância, atochando a imprensa dos
lugarejos, caixões, sobretudo, de livros elementares, fabricados às pressas com
o ofegante e esbaforido concurso de professores prudentemente anônimos, caixões
e mais caixões de volumes cartonados em Leipzig, inundando as escolas públicas de
toda a parte com a sua invasão de capas azuis, róseas, amarelas, em que o nome
de Aristarco, inteiro e sonoro, oferecia-se ao pasmo venerador dos esfaimados
de alfabeto dos confins da pátria. Os lugares que não procuravam eram um belo
dia surpreendidos pela enchente, gratuita, espontânea, irresistível! E não
havia senão aceitar a farinha daquela marca para o pão do espírito.
POMPÉIA, R. O Ateneu. São Paulo: Scipione, 2005.
b)
interferência afetiva das famílias, determinantes no processo educacional.
c)
produção pioneira de material didático, responsável pela facilitação do ensino.
d)
ampliação do acesso à educação, com a negociação dos custos escolares.
e)
cumplicidade entre educadores e famílias, unidos pelo interesse comum do avanço
social.
Bastante experimentei depois a
verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada
exoticamente na estufa de carinho que é o regime do amor doméstico, diferente
do que se encontra fora, tão diferente, que parece o poema dos cuidados
maternos um artifício sentimental, com a vantagem única de fazer mais sensível
a criatura à impressão rude do primeiro ensinamento, têmpera brusca da vitalidade
na influência de um novo clima rigoroso. Lembramo-nos, entretanto, com saudade
hipócrita, dos felizes tempos; como se a mesma incerteza de hoje, sob outro aspecto,
não nos houvesse perseguido outrora e não viesse de longe a enfiada das decepções
que nos ultrajam.
Eufemismo, os felizes
tempos, eufemismo apenas, igual aos outros que nos alimentam, a saudade dos
dias que correram como melhores. Bem considerando, a atualidade é a mesma em
todas as datas. Feita a compensação dos desejos que variam, das aspirações que
se transformam, alentadas perpetuamente do mesmo ardor, sobre a mesma base
fantástica de esperanças, a atualidade é uma. Sob a coloração cambiante das
horas, um pouco de ouro mais pela manhã, um pouco mais de púrpura ao crepúsculo
– a paisagem é a mesma de cada lado beirando a estrada da vida.
Eu tinha onze anos.
GABARITO
1) a)
2) “o Ateneu desde muito tinha consolidado crédito na preferência dos pais, sem levar em conta a simpatia da meninada”
3)
a) O fim das ilusões infantis, a falta de apoio e proteção dos pais, a amargura do narrador-personagem percebendo-se impotente diante dos fatos.
b) Não. A narração é feita em 1ª pessoa, mas o tempo em que transcorre a ação é passado em relação ao tempo em que o narrador se situa.
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