Tema: Desafios para a prática da leitura no Brasil
44%
da população não pratica o hábito da leitura
O desempenho no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), prova feita em 70 países com estudantes entre 15 e 16 anos, também é desanimador. O resultado da última avaliação mostrou que 51% dos estudantes estão abaixo do nível 2 em leitura, que é considerado o patamar básico.
Para compreender este fenômeno, o Edição do Brasil conversou com Luís Antonio Torelli, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL). Segundo ele, o Brasil ficou nos últimos lugares do Pisa no quesito leitura. “A média atual dos estudantes brasileiros é de 407 pontos, muito inferior à dos alunos dos outros países”.
E também tem uma questão que o próprio sistema de ensino não propicia o hábito da leitura. O livro na escola é sempre encarado como objeto apenas para fazer uma prova e tirar nota. A relação do estudante com o livro é ruim. Eles leem não por prazer ou vontade, mas porque o colégio exigiu. E isso é uma coisa que acompanha o aluno até o vestibular e causa reflexos na vida adulta.
A leitura é bastante transformadora. A gente percebe isso desde a mais tenra idade. As crianças que têm o hábito da leitura e gostam de contar histórias possuem uma outra forma de pensar. A prática desde cedo traz conhecimentos enriquecedores para a vida adulta.
Hoje estamos vivendo, por exemplo, o problema das fake news e visto verdadeiras barbaridades compartilhadas pelas redes sociais. As pessoas não têm se interessado em se aprofundarem nos assuntos, pois não leem. Também temos um enorme contingente de leitores analfabetos, que são aqueles que sabem ler, mas não conseguem interpretar o conteúdo, acabando por replicar essas notícias falsas.
Acredito que sem a leitura plena, a educação fica prejudicada. Por exemplo, nos exames do Enem há uma grande quantidade de respostas erradas por falta de interpretação das questões.
TEXTO
III
Imposto
sobre livros causa apreensão
Setor
livreiro se mobiliza contra proposta do governo federal para que isenção de
tributos seja cancelada
O leitor que prepare o bolso: se depender da proposta de reforma tributária feita pelo Ministério da Economia, o livro vai ficar mais caro no Brasil. Entregue no fim de julho à Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei (PL) 3.887/2020 prevê a substituição de Cofins e PIS pela Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS). Atualmente isentos da cobrança dos impostos, os volumes passariam a pagar uma alíquota de 12%. O fim do benefício, segundo avaliação do setor, deverá aumentar o preço do livro em 20%, já que incidiria em cascata, atingindo do fabricante do papel ao livreiro. O valor seria repassado integralmente ao consumidor final.
A proposta do governo causou indignação em toda a cadeia produtiva do livro, incluindo aí os principais interessados na proposta: os leitores. Um abaixo-assinado virtual (disponível no link bit.ly/32pkCrT) já ultrapassou 1 milhão de assinaturas contra a medida. Um manifesto chamado “Em Defesa do Livro”, assinado pelas principais entidades livreiras do país, foi divulgado no início de agosto, também se posicionando contra a mudança.
A tributação vai se somar a uma sequência de dificuldades que o setor enfrenta. Entre 2007 e 2017, houve uma queda de 29% nos pontos de venda de livros no Brasil, segundo dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Nos últimos anos, as duas maiores redes de livrarias do país, Saraiva e Cultura, entraram em recuperação judicial e fecharam diversas de suas unidades – incluindo uma da Saraiva no DiamondMall. “O setor está muito fragilizado. As últimas crises econômicas e a pandemia dificultaram bastante, várias lojas estão fechadas há mais de 120 dias. Se vier (o imposto), será uma tragédia”, detalha Vitor Tavares, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL).
Para o presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) e editor da Sextante, Marcos da Veiga Pereira, o aumento no preço vai levar a uma redução na compra dos livros, com consequências trágicas para o mercado. “Não conseguimos uma margem menor do que a de hoje, vamos ter que subir o preço. É inevitável uma diminuição do consumo, e isso, num contexto de recessão e desemprego como o atual, vai ser desastroso”, afirma.
Preço
Outra preocupação é que o aumento de 20% no valor médio reforce a percepção de que o livro é caro – o que, editores garantem, não é verdade. “Desde que conquistamos a isenção de Cofins e PIS, entre 2006 e 2019, o livro teve uma redução média de 35% no seu preço e vem sendo corrigido apenas pela inflação”, afirma Marcos da Veiga Pereira. Ele cita como exemplo um dos sucessos da Sextante, “O Código da Vinci”, de Dan Brown. “Em 2004, quando lançamos, o preço era R$ 39,90. Se trouxer só pela inflação, até 2020, esse valor chegaria próximo a R$ 100, mas ele é vendido com preço de capa de R$ 54,90. Esse foi o quão mais acessível o livro ficou desde então”, defende.
A avaliação é a mesma do proprietário da editora Miguilim e da Livraria da Rua, na Savassi, Alexandre Machado. “Falar que o livro é caro é desprezar o livro. No segmento infantojuvenil, no qual a Miguilim atua, existe muito zelo para sair tudo perfeito, com detalhes como ilustração, design e qualidade do papel. O preço não é caro, mas qualquer tributo dificulta bastante”, pondera.
Disponível em:
https://www.otempo.com.br/diversao/imposto-sobre-livros-causa-apreensao
(Adaptado)
Nenhum comentário:
Postar um comentário