A CRASE
(Marcos
Cortinovis Carvalho)
Antes de tudo,
faço uma declaração: A crase é linda!
Não vou
criticá-la, pois ela é a união, a junção, a fusão de dois seres que se amam: a
preposição e o artigo. A vogal “a”, de um lado, é uma preposição; a vogal “a”,
do outro, é um artigo feminino. Dessa união de amor, nasce um novo “a”, que
carrega consigo uma identidade, um acento. Um acento denominado grave, que
indica que aquele “a” é fruto da união de dois outros “as”. Surge, assim, o
“à”.
Esse novo ser
encontra-se em frases como “fomos à praia” ou “dirigi-me à sala”, pois a crase
ocorrerá diante de palavras femininas e, justamente por isso, não se usa crase
antes de masculino. Portanto, se eu estou descalço, “eu vou a pé mesmo”.
Mas a nossa
gramática adora uma exceção e criou uma maneira de o masculino não ficar de
fora. Assim, com palavra masculina, a crase será bem-vinda, se a expressão “à
moda de” for suprimida, como em “frango à passarinho” ou “cabelo à Ronaldinho,
na Copa de 2002”.
Mas a crase
também te dá escolha. Com possessivo feminino no singular, usa a crase quem
quiser. Dessa maneira, eu posso “obedecer à sua regra” ou “obedecer a sua
regra”. Aqui também não ficam de fora os nomes próprios femininos, diante dos
quais o uso da crase é facultativo – “Refiro-me à Raquel” – ou, para quem achar
melhor – “Refiro-me a Raquel”.
A crase nunca se
atrasa. Ela é muito pontual e surgiu na hora certa. Por isso, na indicação de
hora, ela sempre está presente. E tanto faz se é agora, ou só “às três horas”.
E vejam que nem precisa estar expressa a palavra “hora”, como em “eu saio às
7”.
Acreditem, a
crase já se aventurou com outras classes. Falo aqui, sem querer fazer fofoca,
do caso com os pronomes demonstrativos. Isso mesmo, a crase também se uniu com
eles e formou frases do tipo “dediquei minha vida àquela mulher”, “assisti
àquele filme na semana passada” ou “referi-me àquilo que aconteceu ontem”.
Também digo que
a crase não se entende bem com todos não. Ela nunca acompanha os verbos, uma
vez que verbos não se relacionam com artigos, e, dessa lição, deixo claro o
seguinte: “a partir de” é uma expressão sem crase, como também as construções
típicas dos nos nossos amigos lusitanos que “sempre estão a recitar Camões”.
Assim como nos
verbos, a crase não acompanha pronomes pessoais, porque esses também não se
relacionam com os artigos. Sendo assim, deve-se escrever “a ela”, “a mim”, “a
ti”, “a nós”, tudo sem crase.
Enfim, diante de
tantas classes a que a vogal “a” pode pertencer, o acento grave, que indica a
presença de uma crase, é necessário, pois, além de demonstrar a presença do “a”
como uma preposição, ele contribui para a compreensão plena das mensagens,
princípio básico da comunicação.
1) Em que
parágrafo o autor explica o que é a crase na língua portuguesa? Que trecho
deste parágrafo serve de destaque para essa explicação?
2) Leia: “Dessa
união de amor, nasce um novo “a”, que carrega consigo uma identidade, um
acento.”(2º parágrafo)
Explique, com suas
palavras, o que esse trecho revela.
3) Conforme o
texto, “..., com palavra masculina, a crase será bem-vinda, se a expressão “à
moda de” for suprimida”. Essa ocorrência está presente na frase do item:
a) Comprei um
aquecedor à gás.
b) Ele
compõe músicas à (à moda) Raul Seixas.
c) Tenho um
cordão banhado à ouro
d) Nunca faço
compras à prazo.
e) Prefiro
caminhões à diesel.
4) A crônica em
análise cita duas situações de uso facultativo da crase, identifique-as.
5) A que regra do
uso obrigatório da crase o sexto parágrafo faz referência ao mencionar que “A
crase nunca se atrasa”?
6) O sétimo
parágrafo versa sobre a relação dos verbos com a crase, sendo correto afirmar
que:
a) antes de
verbo não se usa crase porque os verbos, apesar de serem femininos, não
admitem o artigo “a”.
b) antes de
verbos a crase é facultativa, por isso tanto faz escrever “a partir de”
ou “à partir de”.
c) o uso da
crase antes de verbo é proibido, pois verbo não admite ser antecedido por preposição.
d) a
proibição da crase antes de verbo ocorre porque verbos não têm gênero, sendo
assim não há verbo feminino que justifique o uso da crase.
e) O uso da
crase antes de verbo é obrigatório, porém admite-se não usar a crase em
situações informais de comunicação.
7) O texto
explica por que não existe crase diante de pronomes pessoais:
a) Qual é essa
explicação?
b) Como essa
explicação se associa ao princípio básico do uso da crase?
GABARITO
1) O
segundo parágrafo, conforme o trecho “ela é a união, a junção, a fusão de dois
seres que se amam: a preposição e o artigo. A vogal “a”, de um lado, é uma
preposição; a vogal “a”, do outro, é um artigo feminino.”
2) Esse
trecho revela que a junção de dois “as” (a preposição e o artigo) faz surgir um
único “a”, que é registrado com um acento grave, no caso, tem-se o “à”.
3) b) Ele
compõe músicas à (à moda) Raul Seixas.
4) Diante
de nomes próprios femininos e diante de pronomes possessivos femininos no
singular.
5) Sempre
se usa a crase na indicação da hora.
6) d) a
proibição da crase antes de verbo ocorre porque verbos não têm gênero, sendo
assim não há verbo feminino que justifique o uso da crase.
7)
a) Pronomes
pessoais não admitem artigo.
b) Se não
há artigo, não haverá junção de preposição com o artigo, consequentemente não
ocorrerá a crase.
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